O nome da loja é Alípio Dias e Irmão Lda., A Sementeira.
Trabalho nesta empresa, há 46 anos, empresa essa que foi fundada pelo meu pai, em 1933, em colaboração com o seu irmão Guilherme Soares Pereira Dias. Começou aqui pela rua só com o 178. E em 1 de Abril de 1974, comprámos a casa que estava pegada, que era uma mercearia, a Mercearia União, era para fazermos a junção dos dois para ganharmos maior espaço e maior exposição.
Em determinada altura, o edifício pertencia à Companhia de Seguros Douro. Era fins de século XIX, princípios de século XX e isto era um terreno onde andavam galinhas. Por ano tinham que pagar ao bispo por tantas galinhas, tantos ovos e não sei que mais. Depois a Companhia construiu e fez o edifício.
Depois, em vida do meu pai, apareceu cá um homem que tratava de tudo o que se passava com o que eram edifícios da Companhia de Seguros. E eu conheci-o, era o doutor Napoleão, perguntei-lhe:
- Como é? O que é que o senhor está cá a fazer? O que é que o senhor anda a fazer por aqui? Quando os lobos descem ao povoado é mau sinal.
E ele disse:
- “Não. É porque o terceiro e o quarto andar daquela parte ficaram livres e nós agora vamos fazer grandes obras, de meter placa.”
E eu só lhe perguntei uma coisa:
- Para fazer essa obras, nós não podemos estar cá. Porque isso, meter placas e não sei que mais, isso, bem…
- “Ah, pois não. Vocês vão ter que deslocar-se para outro lado. As obras vão ser feitas e, como a lei prevê, vocês têm direito depois de vir reocupar o espaço .”
Eu disse-lhe:
- O senhor não quer pensar na hipótese da venda do edifício?
Ainda o meu pai era vivo, fez uma proposta ao senhor presidente, que era o doutor Arnaldo Pinheiro Torres. Tinha sido chefe de gabinete do Salazar. Tinha o escritório de advocacia aqui na Rua Mouzinho da Silveira quase junto a uma casa de electrodomésticos, que é a Elka ou qualquer coisa desse género. Ele tinha o escritório por cima. E diz-me o doutor Napoleão:
- “Mas vocês compram?”
- A proposta está lá. Vocês aceitam ou não aceitam.
Claro que falei com o meu primo, pai de um jovem que trabalha hoje aqui. Ele e o meu irmão, sócio na altura, chamaram-me maluco:
- “És maluco!”
A compra foi feita. Com a loucura da compra ser feita, pagámos isto em três anos. Eles facilitaram-nos. Fez-se a escritura e nós começámos a receber logo as rendas. Quer dizer, deixámos de pagar renda, recebemos rendas e os juros foram diminuindo. Foi na altura em que estava o professor Cavaco como Primeiro Ministro e os juros começaram a baixar.