A minha loja chama-se Casa Coração de Jesus de Joaquim da Silva Melo e Companhia e fica na rua Mouzinho da Silveira, 302.
O negócio é essencialmente tudo que tenha ligação com a Igreja. Tanto na parte das celebrações como na parte dos rituais das procissões. De tudo o que é relacionado com a igreja nós temos para fornecer para esses acontecimentos.
O meu tio já tinha trabalhado no ramo em 1885 e com 25 anos abriu a casa com a ajuda da esposa que era uma bordadora excepcional. A casa no início era só bordados que fazia, essencialmente. Tudo religioso sempre. Nós temos pelo mundo inteiro trabalhos feitos nesta casa. Mas o principal foi para Goa.
A partir de 1950, 1955, não havia bordadoras. Quer dizer ainda se fazia alguma coisa nesse período, mas depois veio o Concílio do Vaticano II e a maior parte daquela sumptuosidade que havia, eles cortaram com isso tudo. Portanto, a partir de 1970, o Concílio do Vaticano foi nos anos 60, a partir de 70 é que acabou mesmo os bordados.
O meu avô tinha cinco filhos e ninguém quis tomar conta da loja e, portanto, apareceu o neto. Ele convidou-me para eu vir para aqui. Eu, sou honesto, não estava vocacionado para isto mas, pronto, eu aceitei e desde o momento em que eu aceitei, empenhei-me para tentar fazer renascer a casa. Na altura em que eu peguei na casa, ela estava a definhar completamente.
A partir do momento que eu vim isto renasceu um bocado. Também levou um certo investimento em termos de tudo. Iluminação, materiais novos, renovação de tudo um pouco e isso fez renascer um bocado a loja.
A loja era muito soturna, era uma coisa horrível. Eu não gostava até de vir cá por causa disso. Tinha só duas lâmpadas, duas lâmpadas florescentes, com esta amplitude de altura. Os armários não eram iluminados. Portanto, eu a primeira coisa que eu fiz, foi logo mudar este sistema eléctrico todo, meter lâmpadas a toda a volta da loja, suspensas e iluminar os armários.
O melhorar, conseguir mais do que o que eu tinha, a diversidade de artigos que existe, a qualidade que eu tenho nos artigos que vendo, é difícil. Eu podia vender artigos muito mais acessíveis e mais vendáveis, mas como a origem deles é chinesa eu não aceito. Não gosto e não quero artigos fracos. E como não gosto de artigos fracos não vendo. Tive sempre qualidade. A qualidade exige preço mais alto como é lógico. Isso torna as coisas mais difíceis. Como não o aceitava, deixei-os do lado de fora da loja e tive quebras muito grandes nesse aspecto.
Não consigo ter uma percepção do que é que eu poderia fazer, porque eu já tenho feito tudo. Criei novos artigos, ampliei a gama de artigos que existiam. Essencialmente apostei numa área que eu pensei e que resultou. Efectivamente durante algum tempo resultou, que era o restauro. E nós ainda fazemos muitos restauros, mas o restauro que dá lucro morreu quase completamente.
Eu convido a pessoa a ver o que quiser, conversamos. Sou capaz de perder uma hora com o cliente para saber qual era o santo que ele queria que eu não tenho por acaso, mas sou capaz de procurar. Tenho muita bibliografia sobre isso.
Não vale a pena ir à internet porque a gente perde tempo. Têm mais os livros. E vou aos livros, procuro e digo-lhe, dou indicações e ficam muito contentes. Às vezes até se manda fazer a imagem. Desde que eu tenha três ou quatro binómios da referência da imagem eu posso fazer a imagem. A partir daí há uma diferença muito grande.
Nenhuma superfície comercial tem um empregado que perca dez minutos com o cliente. Ou então está a bufar por tudo que é sítio e até é capaz de deixá-lo, dar as costas e ir embora. Aí é a grande diferença, o atendimento. Nós sentimos que somos diferentes nesse aspecto. Claro, os artigos podemos ser os mesmos, mas lá é só pegar e andar. Aqui não pega e anda porque tem que ser embrulhado.
Temos três pontos principais de venda: o melhor é o Natal, os presépios, as festas, as prendinhas, é isso tudo. Depois temos a Páscoa que em termos religiosos é tão grande como o Natal. Depois temos o período dos emigrantes e das festas.