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Pessoas

Mini Biografia

Artur António Ribeiro Lima Pereira Piano nasceu em Cascais, a 24 de Agosto de 1962.

É um dos responsáveis pela Icon Jeans “o nosso objectivo era uma loja de rua. E o que nós encontrámos ao vir para aqui foi um espaço muito bonito.

Sempre em busca da diferença e qualidade dos produtos a Icon “vende roupa e ténis para um público entre os 15 e os 47“.

“A influência foi sempre do meu próprio trabalho”

Toda a minha vida profissional foi muito independente. É certo que o meu avô teve, uma ourivesaria, mas são coisas bastante diferentes. Nunca pensei nisso como uma influência. Foi um pouco um acaso. Comecei a trabalhar com essas coisas, fui ficando, gostei e tenho tido uma vida à volta disto. Tenho viajado bastante e conhecido um pouco as coisas à volta deste meu trabalho. E foi por aí sempre independente.

Há muito tempo que estou envolvido com este tipo de roupas. Sempre representei e vendi para outras lojas, estas tendências. Em todas as cidades da Europa e do mundo em geral há este tipo de fenómenos de tendências da maneiras de vestir. A dada altura percebi que no Porto havia uma falha, digamos. Havia um espaço em aberto por preencher e resolvi avançar. Eu tinha alguma experiência da área, alguns conhecimentos, resolvi avançar. Foi por aí que me meti nisto.

Estava noutras áreas às quais gostaria até de voltar. Começar a distribuir roupa e algo mais à volta disso.
Não tinha grande prática de comércio. Trabalhava na distribuição de roupa.

Eu no fundo trabalhava com algumas marcas que estão na loja. Tinha contacto de perto com elas.

Representava-as e vendia-as para lojas deste género que há pelo país. No fundo foi pegar nisso e abrir uma loja aqui no Porto.

Foi de tanto contacto com outras lojas deste género de norte a sul do país que achei que fazia sentido abrir uma parecida. Que pudesse satisfazer não só as necessidades, mas colmatar aqui uma falha que havia no Porto.

Rua

Uma rua ainda cheia de vida

Essas coisas dos nomes das ruas, a atribuição a esses ilustres, não sei. A rua de São João, não é o santo padroeiro da cidade ao contrário do que muitas pessoas pensam. No fundo o Porto vive o São João muito intensamente. E uma das coisas que eu penso é que a rua de São João é das ruas mais mal tratadas.

A Rua do São João sendo a rua que vai dar ao Cubo e à Praça da Ribeira que é um marco da cidade é a rua que está provavelmente mais decrépita. Um pouco escura demais à noite. A Rua Mouzinho da Silveira está um pouco envelhecida, mas está num processo já avançado com algumas recuperações.

Percebo ao passar pela rua que as várias épocas estão ali marcadas.

“Em décadas passadas a rua mais movimentada”

As ruas movimentadas são sempre mais caras. Quanto mais movimento tiver à porta mais caro é o metro quadrado. O Porto tem poucas zonas movimentadas. É uma cidade nesse aspecto pequena. Tem zonas de grande movimento que são extraordinariamente caras e que estão ocupadas por cadeias de distribuição gigantes. É incomportável alguém independente ir para lá. As zonas da periferia do Porto não têm a mesma capacidade de captação do público.

Aqui, estamos no centro. Não estamos na rua mais movimentada. Estamos no que foi em décadas passadas a rua mais movimentada que está a caminho do rio Douro a caminho de uns dos pontos mais visitados. Aliás estamos entre os três pontos talvez mais visitados no Porto que é o Palácio da Bolsa, a Ribeira e as caves.

Portanto, passa muita coisa por aqui. Também vivemos um pouco nesse espírito, isto já chegou ao fundo, vamos para lá que vai melhorar. Agora vai melhorar. Houve também duas ou três lojas na altura que abriram aqui nesse mesmo timing. Entretanto já houve algumas alterações. Umas fecharam outras reabriram, mas isso é natural como a vida. Umas abrem outras fecham, umas nascem outras morrem. Isso vai sempre acontecer. Isso traz vida e depois vamos ver o que é que o futuro nos traz.

“Tem muitas coisas boas aqui à volta”

Vivo da rua, tem padaria, tem mercearia ou minimercado. Temos cafezinhos, temos uma confeitaria muito boa. Dá sempre para ir beber uma cerveja na beira do rio. Tem muitas coisas boas aqui à volta.

Tenho alguns contactos directos com alguns comerciantes de várias gerações. Lojas mais recentes que eu já conhecia anteriormente, antes de virem para cá. Que vieram até por alguma influência nossa. Conheço algumas pessoas com actividades do género.

Como há uma escola de arquitectura e de artes, há muita actividade à volta disso. Há aqui a papelaria Araújo e Sobrinho que movimenta muita gente à volta da escola também. Acabamos por conhecer fotógrafos, arquitectos e artista de várias áreas que fazem a sua vida aqui pelo menos durante o tempo de escola e que depois continuam com muitas raízes porque há sempre gabinetes e coisas assim a funcionar dessas áreas.

Áudios

Lugar

“Conheço o Porto há muitos anos”

Conheço o Porto há muitos anos. O meu avô era do centro do Porto, morava na rua Passos Manuel. Era comerciante, tinha uma loja na Rua 31 de Janeiro e passeei muito com ele pelas ruas do Porto. Portanto, há aqui duas épocas logo distintas. Uma quando era criança em que passeava com o meu avô e andávamos pela cidade toda. Depois, lembro-me de toda a zona da Ribeira ter, nos anos 80, um grande movimento de bares à noite.

Havia bares de todos os géneros e para todos os géneros de pessoas. A partir de dada altura começaram a abrir outros bares grandes noutras zonas do Porto e isto mudou completamente. Terminou esse movimento e mudaram muitas coisas. Mas lembro-me muito bem de ter frequentado muito a zona da Ribeira à noite.

Hoje em dia estamos noutra fase. Os bares da Ribeira funcionam muito durante o dia. Há esplanadas com muita gente e há outras coisas a acontecer.

“Há outra geração que olha para a cidade e gosta”

Se calhar temos de recuar talvez 50 anos nisto para começar a perceber o que é que aconteceu ao Porto. E não só ao Porto. Aconteceu a muitas cidades.

Aconteceu a Portugal inteiro. As pessoas de uma certa geração não queriam morar aqui, queriam uma casa nova, porque viveram sempre em casas com poucas condições. E isso tem a ver com a realidade portuguesa. O que era Portugal há 40 anos? Era uma coisa muito má. A generalidade das pessoas vivia em más condições com pouco de tudo.

- “Não quero esta casa velha, quero uma nova. Eu não vou gastar o meu dinheiro a recuperar esta casa velha onde eu sempre vivi, porque eu quero mudar a minha vida toda.”

E isso é em Portugal inteiro. O Porto desertificou-se por isso, porque as pessoas foram morar para os arredores do Porto, para urbanizações que foram crescendo. Nos anos 80 e 90, houve uma construção desenfreada e especulação imobiliária louca. Agora cada um tem a sua casa e vivem lá muito felizes. Porque essa geração que olhava e não gostava e queria fugir deu lugar a outra que olha e gosta. Não é difícil gostar de uma cidade como o Porto se a gente comparar com as urbanizações que há por todos os arredores do Porto. Há Gaia, Gondomar, Ermesinde, Maia. Pronto a gente mete-se em casa e depois sai de casa e não tem nada. Tem uma rua, uma estrada. Que nem é uma rua. É uma estrada onde não passa nada, onde não tem nada para fazer. E se calhar pensa:

- “Eh pá, no centro Porto um tipo sempre sai de casa e tem algum movimento ou tem mais alguma coisa do que tem aqui. Alguma coisa está a acontecer ali onde eu posso ir e aqui não tenho.”

A padaria fecha às 20h, o supermercado fecha às 20h, o cafezito fecha à meia-noite. Mas o café não é o futuro de ninguém. Ficar no café a beber cerveja a ver televisão. Ali é o vazio.

“Comprar um prédio antigo e recuperá-lo”

A reabilitação do Porto está a acontecer há muito tempo. Devagarinho, depois acelerando por um motivo ou outro, mas está a acontecer. Na cabeça das pessoas há essa vontade. São situações muito complexas.

Haver alguma facilidade para porem pessoas independentes a conseguirem comprar um prédio antigo e recuperá-lo era para mim, não a chave da solução, mas uma grande alavanca para que as coisas avancem. Uma grande empresa construtora não tem dimensão para pegar num pequeno prédio, reconstruí-lo e vendê-lo. Essa grande empresa quer ficar com um quarteirão inteiro e está dimensionada para uma coisa desse género. É muito difícil em termos burocráticos. Sei e conheço alguns casos de pessoas que fizeram e que estão muito contentes e se houvesse mais individuais a poderem fazer isso com algumas ajudas… Coisas que lhes facilitassem as burocracias, até algum suporte financeiro de investimento. São investimentos, para uma pessoa só, grandes.

Seria uma grande ajuda para tudo isto começar a ser habitado. Mas lá chegaremos também.

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