Há 20 anos atrás, a clientela era de todo o tipo. Eu trabalhava muito aqui com gente das aldeias, porque eu tinha o lenço preto bordado como ainda tenho este ano. Então, as pessoas das aldeias, de Trás-os-Montes, vinham uma vez por semana ou de 15 em 15 dias fazer as compras para depois vender nas feiras.
Além disso, tinha aquela clientela de passagem. Naquela altura, passava muita gente e a gente vendia. Faziam-se umas montras muito bonitas, eu punha uns daqueles lenços na montra e as pessoas entravam, porque os lenços eram lindos.
Na minha casa, sempre se pôs o cliente à vontade. Ele vê e se quiser ajuda a gente dá. Foi assim que eu aprendi. Éramos obrigados a ir buscar o cliente à porta e hoje eu ainda vou às vezes buscar o cliente à porta, falo com eles e tudo mais. Eles entram e por vezes até compram e bem. Dizem:
- “Para quem não queria comprar nada, está a ver o que é que eu levo?”
Era interessante, de facto.
Agora, trabalho mais com o turismo, a partir de Maio até fins de Setembro mais ou menos. No caso da minha casa específica, é precisamente o turismo que nos vale. Acabando o turismo a partir do dia 15, dia 20 de Agosto é uma perca de 80 por cento. Depois, são poucos e deixam de vir. Acabando, até ao fim do mês de Setembro passam-se dias e dias que quase nem se abre a gaveta.
O meu cliente normal é o turista estrangeiro. Eles gostam muito de coisas com galos, porque é o artigo mais em conta. No bordado à mão, já pegam menos, porque é mais caro. Vão para aquilo que é mais barato, porque eles também não têm poder de compra, não somos só nós.
O português raramente aqui vem. Costumo dizer que o brasileiro é o que mais chora, mas é o que mais compra. Mesmo havendo uma diferença muito grande da moeda deles para a nossa são os que mais compram. O outro turismo lá compra um postal, 30 cêntimos, compra um dedal, 1,80 euro, compra uma bola por 2 euros e pico, um pin, um íman… Coisas dentro de 2 euros, 1,50 euro e não passam muito daí. Primeiro que a gente faça uma verba capaz…
Trabalho com ranchos, também. Faço trajes, dou modelos e tenho costureiras a trabalhar para mim. Ainda agora tenho 18 trajes para fazer para a Academia da Foz, entre senhora e homem. Já mandei para ranchos de fora até. Para Boston, na América, para França, para a Suíça… Eles pedem e eu mando à cobrança.
Tenho muitas boas recordações, a nível de amizades, de clientes que vêm, que compram, tiram fotografias e mandam. Ficam muito contentes. Os brasileiros em especial voltam, procuram-me sempre. Eu acho que essas são as minha boas recordações a nível comercial.
A altura mais difícil para mim é Novembro e Dezembro. O Natal, em questão de vendas, não me diz nada. Até fins de Outubro eu forneço três barcos franceses: o Vasco da Gama, o Fernão Magalhães e o Infante D. Henrique. De Março a Outubro eles compram-me um bocadinho. Compram-me de tudo: tudo o que é de louças, tudo o que é de galos, tudo o que é de panos, rolhas, louça pintada à mão, bonecas de Minho, louça e panos com galos, bolas, ímanes, toalhas, tudo assim uma variedade. Mantêm-me a loja.