Pessoas

Mini Biografia

Francisco Ricardo Freitas Ribeiro nasceu em Guimarães a 13 de Novembro de 1964.

Foi o amor pelo artesanato e história que o trouxe ao Porto. “É uma cidade com história, uma por cima da outra, que é interessantíssimo para pessoas com um certo nível cultural. Entrar aí por uma viela e ver uma janela dum estilo, e a seguir uma casa de outro, e depois um palacete doutra época, está tudo embrenhado em história.

É o responsável máximo da Prometeu Artesanato, uma loja que só vende “produtos portugueses, tradicionais ou modernos, e artesanais, feitos à mão.

Rua

A Rua Mouzinho

A Rua Mouzinho? Claro que conhecia. Em miúdo cheguei a vir às compras com a minha mãe. Quando eu era miúdo isto aqui era uma zona, onde os portuenses andavam e tinha muito menos turismo, mas circulava gente como agora em Santa Catarina ou assim. Nos últimos anos, como de vez em quando venho ao Porto, porque sou de Guimarães e é pertinho, vi a degradação em que isto estava. Eu gosto muito de coisas antigas e esta cidade agrada-me, porque tal como Guimarães é uma cidade cheia de património aí a pontapé, sem ser qualificado, sem ser degradado, etc. E Guimarães era igual, mas é uma cidade pequena, isto aqui é enorme. Mas sinto a mesma coisa que senti em Guimarães, que tem uma potencialidade muito grande para o turismo.

Para o português em geral, não. Por exemplo, as pessoas que eu conheço, novas, chegam aqui ao Porto e dizem assim:

- “Isto devia vir um terramoto e fazer tudo de novo.”

Eu vinha cá em todas as idades, com 17 anos, 18, quando havia aqui o Aniki-Bobó a funcionar, eu era miúdo, tinha 20 anos. Isto foi um bocado como Guimarães. Esta zona aqui nessa altura, estava vocacionada para a juventude, para os miúdos. Concertos da pesada, copos. Agora acho que isso se perdeu aqui.

Agora acho que este centro histórico, tem potencial para o turismo e acho que está mesmo, desprezado. Sinto nestes últimos tempos, nestes últimos meses, uma melhoria na limpeza, aqui nesta zona principalmente. Mas a nível de limpeza, comparado com Guimarães, é fraco. Guimarães sente-se que é uma cidade limpa, ando no centro histórico e vejo, ninguém consegue deitar a corisca do cigarro para o chão lá, porque está tudo impecável.

As lojas não estão vocacionadas para o que a rua se tornou

A diferença desta rua de quando eu tinha 20 anos para agora é abismal!

As casas estavam habitadas, se tivessem um comércio em baixo, viviam pessoas por cima, estava tudo impecável, ou mais ou menos, não tinham as janelas arrombadas. Era um sítio habitado.

Agora, as lojas que existem são poucas e não estão já vocacionadas para o que a rua se tornou. Enquanto antigamente era uma rua virada para o comércio, para as pessoas do Porto e até de Guimarães e de Braga que vinham aqui dos arredores e vinham ao comércio, agora é uma rua onde poucas pessoas do Porto fazem compras, porque é mais fácil ir ao centro comercial. As pessoas daqui moram num apartamento, metem-se no carro, vão ao centro comercial, estacionam. Aqui não há estacionamento, não há nada. Quer dizer, se quiser comprar roupa, para passar em duas lojas tem que andar quase 1 quilómetro. Enquanto num centro comercial tem ali tudo. Pronto, perdeu o estatuto que a Rua de Santa Catarina ainda tem, que é as pessoas daqui irem lá comprar. A Rua Mouzinho, nisso aí está arrumada, não há hipótese.

Agora eu acho que a rua tem um potencial enorme é para o turismo porque, nestes dois ou três quarteirões daqui até São Bento, não tem nenhum hotel, só tem aqui o Pestana. Há empresários a fazer hotéis aí em cada quelho e há aqui casas baratas, reconstruídas, podiam ser bons hotéis, boas residenciais, etc., etc. Virado para o turismo tudo dava.

"À noite a Rua Mouzinho da Silveira é o deserto"

À noite é deserto, não há nada, não há restaurantes, não há bares. Os negócios que existem fecham às 20h, todos. Até o pão quente fecha às 20h. À noite a Rua Mouzinho da Silveira é o deserto, passam meia dúzia de carros. De dia, é o que eu digo, tem turismo. Estou ali há pouco tempo, mas já deu para ver o turismo.

A minha loja de Guimarães é mais ou menos do tamanho desta e o sítio ainda é melhor, tendo em conta que é Guimarães. Pronto, a minha loja é em frente à Câmara de Guimarães, é uma casa do século XVI, portanto lindíssima, é um sítio espectacular. No primeiro ano que eu abri esta loja no Porto vendi mais do que em Guimarães, em Guimarães tenho clientes de há 15 ou 16 anos, que a loja lá abriu há 16 anos. Quer dizer que esta rua tem mesmo potencial e a loja não é muito melhor, porque é mais ou menos do mesmo tamanho e tudo.

Portanto, há um ponto para a gente fazer ali uma comparação. Ou seja, quem souber trabalhar, quem tiver condições para abrir um negócio aqui, tudo o que tenha a ver com turismo, na minha maneira de ver, é garantido. As pessoas têm o retorno rápido.

Eu gostar mesmo, o que eu gostava era de ver a rua quase sem trânsito ou só um sentido. A rua precisava de lojas, de serem arranjados os próprios edifícios e de se pôr um dos lados com passeio mesmo largo, com árvores.

Era o que dava assim um bocado o ar de Paris, com árvores de longe a longe e o passeio largo para passear.

Portanto, quem chegasse aos Aliados e virasse para baixo sentisse que era um sítio onde se respirava melhor. É o rio, é um bocadinho de verdinho ali no meio e menos carros. Eu sinto que ficava espectacular. Isso aí eu sei que é difícil mas aquilo tem duas faixas de estacionamento, depois tem mais duas dum lado e outra doutro, ou seja, são cinco, cinco faixas de carros naquela rua. Claro, se aquilo fosse reduzido para uma ou para duas, por exemplo, uma para rolar e outra para estacionar, só num sentido, com um passeio largo e umas árvores, ficava lindíssimo. Isso aí era garantido.

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Lugar

O Porto tem um potencial para o turismo elevadíssimo

A verdade seja dita, se analisarmos bem, isto tem um potencial para o turismo elevadíssimo, mais que qualquer cidade que eu conheça, porque tem o rio. A verdade é essa. Temos que ver o Porto com olhos de estrangeiro para o perceber. Por exemplo, centenas de turistas que fizeram o Douro de barco, até à Régua.

Isto tem ainda muitos defeitos, não tem sinalética nenhuma. Quem quer visitar qualquer coisa é um bocado difícil. Falta muita sinalética. Os turistas têm o mapazinho, mas é diferente, porque eles não são portugueses, mas ler sabem.

Se virem sinalética a dizer «Igreja dos Grilos» sabem que é para ali. Mas não há cuidado por acaso. É uma das grandes faltas aqui mesmo. Que não custava nada, era um investimento de nada em tabuletas, com as indicações. Tem muitas coisas por aí que precisavam de ser destacadas do resto, às vezes basta uma tabuleta só.

Eu acho que é mesmo espectacular, as vielas todas que a cidade tem, eu gosto mais ainda dessa parte do que propriamente de Mouzinho da Silveira. Porque ali respira-se mesmo a antiguidade. Aquelas vielas, aqueles quelhos. Tenho pena que isto tivesse chegado a este ponto, a verdade é essa. E sinto que não é tão difícil como isso de recuperar isso.

É uma cidade com história uma por cima da outra, que é interessantíssimo para pessoas com um certo nível cultural. Entrar aí por uma viela e ver uma janela dum estilo, a seguir uma casa doutro, depois um palacete doutra época, quer dizer, está tudo embrenhado em história. Por exemplo, aquelas vielas todas, ali da Banharia. Eu, este último ano, ando a fazer passeios por estes quelhos todos e mesmo por este lado, Miragaia, que é lindíssimo. Mas está tudo abandonado, tudo. Não tem aquela qualidade que, era pretendida para de facto servir esse tipo de turismo, turismo cultural, pessoas que têm um nível económico bom.

Não há coisas com essa qualidade, para as servir. Naquelas vielas todas, não passa lá ninguém, eu andei por lá dias e dias e vi meia dúzia de turistas. Às vezes vou lá com alguns turistas e é dos sítios que eles mais deliram. Portanto, aí podia ser uma zona nocturna espectacular como é o Bairro Alto, porque está tudo desabitado. É lindo, pitoresco, uma vista louca, casas a ver-se o rio todo cá em baixo, para um lado, para o outro e está tudo a cair. Mas a verdade é que se houvesse um bocadinho só de investimento para impulsionar agora estas pessoas que têm dinheiro que estão a fazer hotéis, se pegassem nesses casarões que há por aí e fizessem assim uns bons hotéis, com qualidade, bons restaurantes. Não há um restaurante naquele morro, ou se há um é assim uma coisa mesmo fraca que é tipo por trás da Igreja dos Grilos, portanto, é uma coisa pequenina tipo casa de fados. Era só preciso mesmo é que os portuenses acreditassem que isto era negócio.

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