A verdade seja dita, se analisarmos bem, isto tem um potencial para o turismo elevadíssimo, mais que qualquer cidade que eu conheça, porque tem o rio. A verdade é essa. Temos que ver o Porto com olhos de estrangeiro para o perceber. Por exemplo, centenas de turistas que fizeram o Douro de barco, até à Régua.
Isto tem ainda muitos defeitos, não tem sinalética nenhuma. Quem quer visitar qualquer coisa é um bocado difícil. Falta muita sinalética. Os turistas têm o mapazinho, mas é diferente, porque eles não são portugueses, mas ler sabem.
Se virem sinalética a dizer «Igreja dos Grilos» sabem que é para ali. Mas não há cuidado por acaso. É uma das grandes faltas aqui mesmo. Que não custava nada, era um investimento de nada em tabuletas, com as indicações. Tem muitas coisas por aí que precisavam de ser destacadas do resto, às vezes basta uma tabuleta só.
Eu acho que é mesmo espectacular, as vielas todas que a cidade tem, eu gosto mais ainda dessa parte do que propriamente de Mouzinho da Silveira. Porque ali respira-se mesmo a antiguidade. Aquelas vielas, aqueles quelhos. Tenho pena que isto tivesse chegado a este ponto, a verdade é essa. E sinto que não é tão difícil como isso de recuperar isso.
É uma cidade com história uma por cima da outra, que é interessantíssimo para pessoas com um certo nível cultural. Entrar aí por uma viela e ver uma janela dum estilo, a seguir uma casa doutro, depois um palacete doutra época, quer dizer, está tudo embrenhado em história. Por exemplo, aquelas vielas todas, ali da Banharia. Eu, este último ano, ando a fazer passeios por estes quelhos todos e mesmo por este lado, Miragaia, que é lindíssimo. Mas está tudo abandonado, tudo. Não tem aquela qualidade que, era pretendida para de facto servir esse tipo de turismo, turismo cultural, pessoas que têm um nível económico bom.
Não há coisas com essa qualidade, para as servir. Naquelas vielas todas, não passa lá ninguém, eu andei por lá dias e dias e vi meia dúzia de turistas. Às vezes vou lá com alguns turistas e é dos sítios que eles mais deliram. Portanto, aí podia ser uma zona nocturna espectacular como é o Bairro Alto, porque está tudo desabitado. É lindo, pitoresco, uma vista louca, casas a ver-se o rio todo cá em baixo, para um lado, para o outro e está tudo a cair. Mas a verdade é que se houvesse um bocadinho só de investimento para impulsionar agora estas pessoas que têm dinheiro que estão a fazer hotéis, se pegassem nesses casarões que há por aí e fizessem assim uns bons hotéis, com qualidade, bons restaurantes. Não há um restaurante naquele morro, ou se há um é assim uma coisa mesmo fraca que é tipo por trás da Igreja dos Grilos, portanto, é uma coisa pequenina tipo casa de fados. Era só preciso mesmo é que os portuenses acreditassem que isto era negócio.