O Crescimento da Cidade
O Porto ganhou a sua autonomia face ao poder real pela carta de doação da cidade à sua Sé Episcopal e ao seu bispo e sucessores, realizada pela Rainha D. Teresa «com consentimento do meu filho Afonso e das minhas filhas» a D. Hugo em 13 de Abril de 1120.
Desenvolveu-se a cidade em volta do morro da Sé, espraiando-se em direcção ao rio, passando este a ter crescente importância comercial e de desenvolvimento. Mas o poder real, ao apoiar a instalação – contra a vontade inicial do cabido da Sé pela perda de receita que tal implicava – de dois conventos de mendicantes no Vale da Vila, que se situa entre os dois morros da Vitória e da sé, deu início á expansão da cidade não apenas para fora das muralhas românicas, mas sobretudo em direcção ao rio, veículo essencial de comunicação e comércio. Essa alteração não era de todo inocente. Pelo contrário, tinha um forte sentido político. Por um lado, tais ordens religiosas eram independentes do poder episcopal e recebiam os mais diversos legados das gentes mais abastadas da cidade, contribuindo para a criação de novas artérias, rasgando montes e construindo-se novos edifícios, não-religiosos. Por outro, ao acentuar-se a importância do rio como canal de comunicação e de comércio, a cidade tornava-se mais aberta, perdendo o seu cariz enclausurado que até então tinha, no interior do espartilho muralhado e controlado apenas e só pelo Cabido. A expansão então iniciada ao longo do Vale da Vila, até então constituído apenas por hortas, alguns moinhos e pelâmes para curtimento de peles, irá contribuir para a expansão uma nova classe de mercadores e de artífices, constituindo, paralelamente, as novas ordens religiosas, novos centro de poder religioso, cultural e económico.
No final do século XV, um evento vem novamente dinamizar o crescente carácter mercantil da cidade. Após a expulsão dos judeus de Castela e Leão, o rei D. Manuel I permite a instalação no Porto, junto ao morro da Vitória, da família do Grande Rabino Isaac Aboab e de mais cerca de 30 famílias, num total de 120 pessoas. Embora alguns tenham posteriormente vindo a ser novamente expulsos de Portugal quando D. Manuel tomou igual medida, muitos tinham sido (ou foram-no ainda que de forma forçada), cristianizados e permaneceram na cidade, vindo a constituir o núcleo de um importante pólo comercial e de contactos com o exterior, nomeadamente por via da rede da diáspora judaica que abarcava o norte da Europa, Itália, o norte de África e a Turquia.
É em resposta a esse crescimento mercantil, ou mesmo pretendendo dinamizá-lo, que o mesmo D. Manuel I toma uma série de medidas de intervenção do poder real e consequente diminuição do ancestral domínio do Bispo sobre a sua cidade, que terão profundo impacto na cidade. Toma o patrocínio, em 1518, da construção do Convento de São Bento de Avé-Maria, junto à Porta de Carros (alargada e reconstruída em 1526), e em terrenos da Mitra. Em 1521, determina a abertura de uma nova artéria estruturante, entre a até então pequena Rua Defronte do Alpendrede S. Domingos e a referida Porta de Carros, sob a designação de Rua das Fores de Santa Catarina para «poder passar serventia do Mosteyro Novo que Sua alteza mandou fazer e assy para dita cidade pello cressimento em que ella vay a Deos Louvores».
Ver:
Figura 1 – A Rua das Flores e o Convento de S. Bento de Avé Maria
Figura 2 – O rio da Vila
A Rua das Flores de Santa Catarina
Nas duas extremidades da Nova Rua das Flores de Santa Catarina, situar-se-ão dois dos mais importantes centros cívicos da cidade, o alargado Largo de S. Domingos e o Largo de São Bento junto à Porta de Carros. A rua das Flores revolucionará a circulação na cidade por permitir uma expedita e desafogada circulação entre a zona sobranceira ao rio e a porta de entrada/saída da cidade que seguia em direcção a Braga. E permitirá dar resposta às necessidades sentidas de espaços para novas habitações no burgo desde finais do século XV.
Do final da rua das Flores, do Largo S. Domingos, far-se-ia a transição pela adjacente rua de Belmonte para a zona da Judiaria, Vitória e Olival, e, em direcção ao rio, pela Ponte de S. Domingos sobre o rio da Vila e rua de Congostas, para a Rua Nova e Praça da Ribeira e respectivo Cais.
Sensivelmente a meio da Rua das Flores, situa-se a Rua da Ponte Nova, denominação derivada da existência de uma ponte sobre o rio da Vila que o cruzava, ligando as duas margens do antigo vale, de um lado seguindo para a Banharia e morro da Sé e do outro para a Vitória e Judiaria. Era designada de «Ponte dos Ferreiros» e acedia-se por estreita viela, que em 1551 foi autorizado que se fizesse a abertura de nova rua e em 1556 determinou-se a construção de melhor e mais sólida nova ponte.
Ver:
Figura 3 – Rua da Ponte Nova
Arquitectura na Rua das Flores
Uma das marcas mais perenes que a rua das Flores deixou em herança a toda a cidade terá sido o estabelecimento de um padrão de tipologia edificada: «os lotes uniformes, a fachada disciplinada, cuidada e separadora como ícone da intimidade burguesa, a traseira, oculta da vista do estranho, livre e orgânica, avançando pelo quintal, que é sempre um microcosmos da quinta dos arredores, ou, mais longe, no Douro».
Com efeito, é fácil comprovar esse padrão urbano nas actuais ruas das Flores, Mouzinho da Silveira, do Almada, Santa Catarina, Bonjardim, Costa Cabral, enfim, em todas as principais vias estruturantes e suas adjacentes no centro da cidade.
Excepção terá sido o notável edifício da Misericórdia. A Irmandade da Misericórdia do Porto teve sede na Sé Catedral desde a sua fundação, em 1499. No entanto, face ao aumento dos seus membros e em especial do seu património, em 1550 passou a sua Casa de despacho para a Rua das Flores, onde se encontra até aos dias de hoje. Em 1605, decide a Irmandade, a fim de dar provisão ao fins de assistência que estava obrigada por um legado, iniciar a construção de um hospital na rua das Flores, denominado de «D. Lopo de Almeida», e do qual ainda se podem ver algumas ruínas no nº171/177 daquela artéria. Apenas foi substituído aquando da construção, a partir de 1770, do Hospital de Santo António.
A Igreja da Misericórdia foi iniciada em 1552, sendo benzida em 13 de Dezembro de 1559 embora a capela-mór apenas tenha sido terminada em 1584. Após um período de alguma decadência, em 1740 decidiu a Irmandade mandar restaurar a sua Igreja, encarregando o arquitecto italiano Nicolau Nasoni da obra que terminou em 1748, destacando-se em especial a sua fachada estilo em estilo barroco com formas rococó.
Ao longo da rua, foram poucas as construções fora do padrão de loja/habitação com quintal ou jardim nas traseiras, de costas, sendo a Misericórdia a verdadeira excepção. Foi apenas já em períodos bastantes posteriores à sua abertura, nomeadamente no século XVII, que algumas famílias abastadas edificaram casas de maior dimensão, algumas das quais chegaram até aos nossos dias.
É o caso do edifício conhecido como «Casa dos Maias» (do seu adquirente no século XIX Domingos Oliveira Maia), mandada edificar e residência da família de Martim Ferraz no século XVI, bastante alterada durante o século XVII.
De notar igualmente no brasão de família da fachada, elemento pouco comum na cidade do Porto, atendendo ao antigo privilégio dos seus habitantes de não permitirem a residência de elementos da nobreza no interior da cidade, privilégio esse abolido por D. Manuel I em 1513.
Por sua vez, a Casa da Companhia, junto á esquina da rua do Ferraz, assim designada por ter servido durante longos anos de sede à Real Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, foi originalmente construída pela família dos Figueiroas Pinto, que a vieram a alugar e posteriormente a vender àquela empresa no final do século XVII, edifício que hoje é sede da Fundação da Juventude.
Durante os três séculos e meio em que foi certamente a artéria mais relevante da cidade, a Rua das Flores teve um cariz simultaneamente habitacional e mercantil. Na sua origem, foi local de residência da elite citadina, dos novos burgueses, muitos deles «cristão-novos» que tiveram um papel primordial na caracterização mercantil da cidade, fruto das suas redes de contactos, de negócios e familiares.
Ao longo dos séculos, aquela artéria, como centro importante de toda a circulação da cidade, foi tornando-se local de estabelecimentos comerciais, fossem armazéns ou lojas.
Desenvolvimento e surto comercial no séc. XIX
O desenvolvimento comercial e habitacional da cidade, em especial desde meados do século XVIII transforma a cidade num importante entreposto comercial, destacando-se o Vinho do Porto como produto de exportação, mas de igual forma como centro distribuidor agrícola e comercial de e para todo o norte do país. Era já evidente no início do século XIX a necessidade de melhoria das vias viárias no interior da cidade, bem como cuidar da sua expansão habitacional, na altura, ainda praticamente confinada ao interior das muralhas fernandinas. No entanto, os diversos e calamitosos eventos políticos que ocorre, vão levar a cidade a ter de aguardar várias décadas pela sua concretização: as Invasões Francesas, as lutas liberais, a Guerra Civil e a Patuleia deixam marcas profundas na cidade, a situação financeira geral e o clima social e político impedem a concretização de qualquer plano. Apenas com o advento da chamada Regeneração (1851) e subsequente estabilidade a nível político é que a cidade estará em condições de cuidar de si mesma e partir para um novo fomento.
A extinção dos conventos religiosos masculinos tinha libertado vasto património para o erário público, permitindo a sua ocupação por serviços públicos, seja pela sua simples demolição para se rasgarem novos espaços públicos fossem jardins, bairros, praças e ruas. Na década de 30 século XIX apenas a Rua Ferreira Borges tinha sido rasgada – demolindo-se para o efeito, a Igreja dos Terceiros de S. Domingos, permitindo uma maior fluidez do movimento circulatório Flores/S. Domingos/Ribeira por via da rua Nova dos ingleses.
Em 1859 deu-se início à construção da nova e monumental Alfandega na praia de Miragaia, sinal bem visível da dimensão que o comércio tinha adquirido e da insuficiência até então existente quanto a estruturas de apoio. A sua abertura irá implicar novo rearranjo, com a abertura da Rua Nova da Alfândega e a sua ligação à Rua dos Ingleses. Ainda com a Alfandega por concluir, verificou-se que o novo arranjo urbanístico seria insuficiente, uma vez que a centenária rua das Flores não se mostraria suficiente para todo o novo caudal circulatório que se adivinhava e em parte já se fazia sentir.
É então apresentado um plano, em 1872 de abertura da Rua da Biquinha e que veio a ser a Rua de Mouzinho da Silveira, entre o Largo das Freiras de S. Bento e a Rua de S. João e no mesmo ano, um outro para modificação e alargamento da rua das Congostas, entre o Largo defronte de S. Crispim e a Rua dos Ingleses. Projecto esse aprovado em sessão camarária a 27 de Março de 1872.
A construção das duas novas artérias, ligadas entre si, era obra de grande fôlego que implicava o total encanamento do rio da Vila, o derrube de inúmeras habitações, o desaparecimento de uma série de pequenas ruas e vielas e o corte de quintais nas traseiras das casas da rua das Flores. As expropriações ocorreram nas Ruas dos Banhos, Cimo do Muro, S. Nicolau, Miragaia, Reboleira, Ferraria, Forno Velho de Baixo, Travessa dos Banhos, Postigo do Pereira, Calça dos Frades, Escadas do Caminho Novo, Biquinha, Largo do Souto, Largo de S. Roque, Banharia, Rua das Flores, Viela do Souto, Rua da Ponte Nova, Sant’Anna, S. Crispim e Largo de S. Crispim, S. Francisco e Congostas.
Ver:
Figura 5 – Plano para a construção da rua Mousinho da Silveira
Figura 4 – Início de demolições para abertura da Mousinho da Silveira
A Rua de Mouzinho da Silveira
Iniciada a obra, o então presidente da Câmara, Pinto Bessa, podia já dizer em Janeiro de 1874:
«Outra obra de não menos urgência e utilidade municipal está sendo a abertura da rua da Biquinha, hoje de Mousinho da Silveira; esta, porém, como é sabido, acha-se definitivamente resolvida pela actual câmara, e os trabalhos já teriam principiado há muito, com grande impulso, se não fosse a pertinaz e injustificável opposição manifestada pela confraria de S. Chrispim no processo de expropriação que a câmara intentou para a demolição da cappela e mais propriedades pertencentes àquella confraria.
Apesar, porém, da tenacidade com que a confraria procura contrariar os louváveis intuitos da comarca, julgo que a questão judicial da expropriação está prestes a chegar ao seu termo, e logo que assim seja, principiarão os trabalhos d’abertura.
Esta rua de Mousinho da Silveira é de grande custo, não só pelo número e valor das propriedades que tem de ser demolidas, como pelas importantes obras d’arte que é mister fazer em todo o comprimento da rua, para a qual já estão compradas e pagas nove propriedades de casas no valor de 22:504$600 reis, como minuciosamente se vê no mapa 8, estando em via d’ajuste algumas outras».
Com efeito, na planta do novo arruamento de Mouzinho da Silveira, ali era indicado, sensivelmente a meio da artéria, em local onde mais tarde foi construída a sede do Banco Aliança, um espaço para a capela da Confraria e para o seu hospital anexo. No entanto, certamente devido a divergências quanto a localização, custos de reconstrução e indemnização pela demolição, a Confraria contestou em tribunal o propósito camarário.
Tinha sido a Confraria de S. Crispim e S. Crispiano fundada pela corporação dos sapateiros, no Convento de S. Domingos por volta de 1240. Construíram capela em local do outro lado do rio da Vila, em frente à Ponte de S. Domingos que ligava as duas margens, em local que mais tarde veio a ficar conhecido pelo nome do seu patrono. Junto á sua capela funcionava hospital ou albergue de peregrinos conhecido como «dos Palmeiros». O Hospital dos Palmeiros, era assim designado porque os seus testadores, Martim Vicente Barreyros e sua mulher Joanna Martins, que o construíram e o doaram à Confraria a 16 de Fevereiro de 1345, impuseram o encargo de os confrades, todos os anos, no dia 24 de Maio celebrarem missa no vizinho Convento de São Domingos junto da «Capellamor a parte esquerda, entrando pelo Mosteyro, e tem por deviza duas palmeyras aspadas…», que era o símbolo dos peregrinos que visitavam a Terra Santa. Será esse o motivo porque aqueles donatários teriam ficado conhecidos precisamente por os «Palmeiros».
A contenda com a Câmara Municipal findou e a capela e o hospital/albergue de S. Crispim foram mesmo demolidos, mas reconstruído, não no local inicialmente previsto, mas no cimo da Rua de Santos Pousada, no antigo Largo da Póvoa de Cima e que ostenta hoje o nome de Praça Rainha Dona Amélia – onde ainda hoje se encontra, tendo as obras sido iniciadas em 1876 e concluídas em 1881.
Ver:
Figura 5 – Plano para a construção da rua Mousinho da Silveira
Figura 6 – A Capela de S. Crispim e o Hospital dos Palmeiros
A nova via de comunicação central do Porto
Durante a fase de construção da Mouzinho da Silveira, a Câmara Municipal, em 1875, apresenta alteração ao projecto inicial, basicamente prevendo o alargamento da via de 16 para 19 metros de largura. Nos Relatórios detalhados que são publicados a cada dois anos, pode-se verificar que são mais de 200 os artigos matriciais expropriados em todo o percurso da rua Mouzinho da Silveira, havendo que se somar mais cerca de duas dezenas referentes à nova rua das Congostas. Perdeu aquela artéria tal designação quando foi proposto «que a rua das Congostas, é sequência da rua Mousinho da Silveira, tivesse esta denominação, ficando assim toda a rua desde o Largo de S. Bento até à rua dos Ingleses com o nome de Rua de Mousinho da Silveira», conforme deliberação camarária aprovada em 15 de Dezembro de 1881.
Em 1882 é inaugurado o serviço de transporte colectivo, por meio de carruagens em cima de carril, inicialmente por tracção animal, vindo da Praça D. Pedro até à rua dos Ingleses, passando por todo o traçado da rua Mouzinho da Silveira. Tratou-se de uma ligação fundamental, que anos mais tarde seria ainda mais potenciada com a abertura da Estação dos Caminhos de Ferro, em S. Bento e a sua interligação com a linha que seguia em direcção à Foz e Matosinhos. Apenas nos anos 80 do século XX foram retirados os carris e interrompido o serviço naquela artéria.
Também naquele ano de 1882 é apresentando o projecto de concretização da tão desejada praça fronteira à Associação Comercial do Porto, no espaço deixado pela antiga Cerca do Convento de S. Domingos, o que vai permitir novo rearranjo da antiga rua das Congostas, agora parte integrante do remate final da rua Mouzinho da Silveira ligando-a com a Rua dos Ingleses em direcção à rua Nova da Alfândega.
Ver:
Figura 7 – Plano de pormenor junto ao Largo de S. Bento
Mouzinho da Silveira como centro comercial
A abertura da Rua Mouzinho da Silveira é certamente um dos empreendimentos urbanísticos mais marcantes na cidade de finais do século XIX, envolvendo avultados investimentos que a câmara foi conseguindo financiar por intermédio de sucessivos empréstimos. Recorde-se o ponto da situação no início de 1876, quando já uma terça parte do encanamento do rio da Vila estava em curso envolvendo significativas e arrojadas obras:
«A Rua de Mousinho da Silveira, cuja abertura se reclamava há muito tempo, é de incontestável utilidade, não só por proporcionar ao público uma ampla e fácil communicação da cidade baixa e margem do Rio douro com o interior da cidade, como também por fazer desaparecer um immundo local ou bairro; esta rua acha-se em construção, estando feita a maior parte das expropriações, até ao largo do Souto, e construída a terça parte do grane aqueduto, que tem de receber as águas do rio da villa, na extensão de 115 metros. Este aqueduto é uma das melhores obras que ultimamente se tem feito nesta cidade, não só pela sua extensão e dimensões, pois mede 365 metros de comprido, 2m,50 de largo e 3m,35 de alto, como pela solidez da sua construção (…)».
No seu percurso a nova rua irá levar á demolição do Largo de S. Roque, construção setecentista, do tempo de João de Almada, constituída por uma praça semi-circular e uma capela dedicada aquele santo, tendo forma hexagonal e sendo servida por escadaria em cantaria. De todo esse conjunto, pode-se ainda ver-se hoje em dia uma pequena parte do muro de sustentação no início da rampa que dá acesso à rua do Souto.
Pouco abaixo desse local e do mesmo lado da rua, foi projectada e construída em 1881 uma nova fonte monumental, que veio a ser desactivada em 1920, alugando a câmara o espaço interior abobadado para a construção de dois pequenos estabelecimentos comerciais. Apenas em 1966, voltou a Câmara á sua posse, procedendo então à reconstrução da fonte que tem a forma semi-circular, toda em granito e constituindo parte da parede de sustentação da rua dos Pelâmes que lhe fica da parte superior.
A pronta edificação de edifícios ao longo dos dois lados da rua logo após o início da sua abertura, levou a que a rua da Mouzinho da Silveira tenha um carácter semi-uniforme no que diz respeito à edificação, caracterizado por edifícios de vários pisos, com lojas/armazéns ao nível do solo e pisos superiores utilizados como escritório e/ou habitação.
Tirando proveito da localização, entre a zona ribeirinha e do cais, da nova alfandega e do caminho de ferro, a Mouzinho da Silveira tornou-se desde finais do século XIX e até aos anos 80 do século XX, um dos eixos essenciais da actividade mercantil portuense. Em toda a zona situavam-se os principais estabelecimentos, como fossem o Banco de Portugal e todas as demais casas bancárias, companhias de seguros, a poderosa Associação Comercial, as sedes das casas de Vinho do Porto, toda a série de importadores e exportadores, a Feitoria Inglesa, os despachantes alfandegários, as empresas de transportes, etc.
Ver:
Figura 9 – Largo e Capela de S. Roque
Declínio e Renascimento
Uma intensa actividade comercial e de serviços constituía o dia-a-dia da artéria contribuindo para o seu papel de centralidade, em muito beneficiando da sua localização, vias de acesos e serviços de transportes. Esse seu carácter de centro financeiro e de serviços diminuirá ligeiramente com a abertura da nova Avenida da Liberdade e dos Aliados, a partir dos anos 20 do século XX, pois que grande parte das casas bancárias para ali se transferiu. No entanto, a vertente de comércio perdurou por largas dezenas de anos, até ao momento em que, por via da entrada na Comunidade Económica Europeia três factores se conjugaram para dar uma machadada quase mortal na vida comercial da Mouzinho da Silveira: foram extintos os serviços de despachantes alfandegários que constituíam um importante factor de dinamização do sector de serviços da zona, pois tratava-se de algumas dezenas de empresas situadas na rua e vias adjacentes. Acresceu em simultâneo a mudança e encerramento da Alfândega, sendo transferida para fora da cidade, levando consigo dezenas dês empresas de serviços de contabilidade, de transportes, escritórios de representação, para além de todo o movimento próprio da alfandega com os seus despachantes, camionistas e funcionários. Por fim, a introdução no país das grandes superfícies comerciais a meio da década de oitenta do século XX, levou a uma profunda revolução no sistema de distribuição de géneros, nomeadamente alimentícios, afectando o dinamismo tradicional e secular de dezenas de armazenistas e distribuidores instalados na zona, decaindo muito rapidamente o seu número.
Esses eventos, sucedidos quase em simultâneo irão provocar um rápido definhamento de toda a actividade económica na zona e a um progressivo abandono, deslocalização ou encerramento de empresas, com a consequente desvalorização e crescente degradação dos edifícios.
Apenas recentemente se iniciaram políticas públicas e diversos projectos de iniciativa privada para inverter essa tendência e permitir não apenas recuperar o património edificado, mas reformular a tipologia de ocupação económica de toda a zona, em que as Ruas de Mouzinho da Silveira e a Rua das Flores voltarão a ter um papel primordial na vida e história da cidade.
Ver:
Figura 10 – Ruas de Mousinho da Silveira e Rua das Flores
Linda Reportagem!!!
Parabéns!
Gostaria de indicar essa matéria: http://www.obrasdarte.com/historia-da-arte/
Forte Abraço!