Só quando comecei a trabalhar é que passei a frequentar o Porto que até aí não vinha à cidade. Eu fui muito novo para Gaia, para a freguesia de Oliveira do Douro. O que me lembro, antes dos 10 anos, é de vir precisamente aos meus tios, para onde eu fui trabalhar a seguir. Vinha só em festas, no Natal, poucas vezes vinha à cidade. A cidade para mim não me dizia nada, porque era muito novo. Nasci no Porto mas a partir de 1 ano fui viver para Gaia. Portanto, não tenho muitas recordações.
Quando vim trabalhar comecei a ter mais interesse na cidade porque vinha aqui todos os dias. Tinha muito movimento e foi praticamente a partir dessa altura que eu comecei a aperceber-me do comércio, que eu até aí não tinha noção nenhuma. Uma criança com 10 anos que noção tem do comércio? Nada. Foi aí que comecei realmente a ver como é que isto funcionava. Gostava de trabalhar aqui, como gosto.
Nessa altura, havia mais habitação, havia mais pessoas a viver aqui. Aqui não havia uma casa que não estivesse ocupada com comércio. Hoje temos aí dezenas de casas vazias. Naquela altura, tudo trabalhava, tudo vivia e tudo vendia. Aqui havia casas de todo o género. Mas o mais forte era realmente o comércio de confecções e têxtil. Também havia aqui umas que vendiam sapatos, vendiam bicicletas, ainda me lembro muito bem que havia aqui o Faria que era de bicicletas. Havia uns tendeiros do nosso ramo mas tinham calçado pendurado nas portas, aquilo era uma coisa engraçada. Havia de tudo. Depois foi-se apagando, há uns dez anos mais ou menos é que começou realmente a perder comércio, começaram a fechar algumas casas e poucos estão aqui agora.
Actualmente, o comércio tem poucas casas. Os habitantes também começaram a sair daqui, as casas também são muito velhas e ninguém quer viver em habitações sem condições. É o problema principal aqui da cidade. Demoraram muitos anos a reconstruir a habitação e isto está muito degradado.
Uma das coisas que levou ao afastamento das pessoas de vir à cidade é o trânsito. Durante muitos anos entrar na cidade era uma confusão. Hoje é muito mais simples. Hoje temos outro problema, o estacionamento. As ruas estão cheias de carros e não há lugares para quem vem à cidade. Para se conseguir um lugar, ou se vai para os parques de estacionamento, que são caríssimos ou então anda às voltinhas até arranjar um lugar para se poder estacionar.