Artigos em promoção ou mesmo rebaixa. Mostrar/Ocultar

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Pessoas

Mini Biografia

Vítor Manuel Martins Teixeira nasceu a 23 de Agosto de 1951, no Porto. Filho de Manuel Teixeira Monteiro e de Ana da Conceição Martins, andou na escola até à quarta classe, “a partir da quarta classe não quis estudar e fui trabalhar” com o tio numa camisaria.

Já rapaz lembra-se que foi “para o Ultramar com os olhos completamente fechados. Eu andei na tropa, na recruta, e eles nunca nos disseram para aquilo que a gente ia. A recruta era feita à pressa e passava-se para a especialidade. Eu nunca fui enfermeiro e fui para a tropa para enfermeiro.

Actualmente é empregado de escritório da Casa Mizita, mas quando para lá entrou, era empregado de balcão “os anos foram passando e agora é até à reforma. Já não falta muito que é aquilo que espero.

Capacidade de adaptação

Eu comecei a trabalhar com 10 anos. Um tio meu tinha uma fábrica de camisaria, no número 107 da Rua das Flores. Na altura, havia muitas crianças como eu, muitas mesmo. Vínhamos da quarta classe, não havia possibilidades de estudo e então íamos fazer qualquer coisa. Eu vim para ali, comecei a fazer uns servicitos pequenos, a fazer entregas na rua. Entregava facturas, ia receber. Já nessa idade eu recebia aos dias de pagamento. Passado alguns anos é que mudei para aqui, para o estabelecimento onde estou até hoje.

O meu primeiro ordenado era 70 escudos. Mas almoçava em casa da minha tia e ainda ganhava 70 escudos no final do mês. Isto em 1961/1962. Na altura, não dava para quase nada, era uma miséria. Mas, como almoçava, aquilo era dinheiro que entrava em casa e fazia falta. Tudo era pouco para ajudar os pais.

Do armazém para o balcão e por fim o escritório

Depois da camisaria vim para o armazém e depois fui para o balcão. Entretanto, fui para o Ultramar, para a tropa e regressei. Na altura que regressei tinha aqui uma colega, que foi reformada nova, que estava no escritório.

Tinha um problema nos pés e o patrão fez-me o convite a ver se eu queria vir e eu aceitei. Vim para o escritório. A partir daí, já estou há 30 e tal anos nos escritório, mas formação não tenho. Tenho a quarta classe. O que adquiri foi com a experiência dos anos e com quem me ensinou.

Rua

Uma rua com tradição e cheiro a sardinheiras

O que a Rua das Flores tem de melhor é a tradição. É uma rua com tradição porque era uma rua muito famosa nos tempos de outra senhora e claro, as pessoas ainda se lembram da Rua das Flores.

Pior é o que se vê, os passeios podres, a cair. Ainda um dia destes, um turista, deu uma queda por causa de um buraco que tinha no passeio. Os passeios estão totalmente destruídos. A rua é o que se vê. Condições, não há nenhumas para as pessoas poderem circular à vontade.

Os passeios além de mal arranjados, estão todos cheios de buracos, depois com candeeiros, cegos a bater nas tabuletas. A indicação de zona de estacionamento privado em toda a área. Isso é mau. A pessoa quer estacionar e estaciona num parque privado por uns segundos, simplesmente para carregar ou descarregar qualquer coisa. Vem logo a polícia, é multado. Depois há chatices, as pessoas têm de pagar as multas.

Por exemplo, nesta rua, pelo que me contam, estas varandinhas estavam cheias de flores, toda a gente tinha o seu vasinho, a sua varanda enfeitada. Mas agora não há flores em lado nenhum. Há muitas varandas há, mas agora flores é que não vejo.

Lugar

Uma cidade com movimento

Só quando comecei a trabalhar é que passei a frequentar o Porto que até aí não vinha à cidade. Eu fui muito novo para Gaia, para a freguesia de Oliveira do Douro. O que me lembro, antes dos 10 anos, é de vir precisamente aos meus tios, para onde eu fui trabalhar a seguir. Vinha só em festas, no Natal, poucas vezes vinha à cidade. A cidade para mim não me dizia nada, porque era muito novo. Nasci no Porto mas a partir de 1 ano fui viver para Gaia. Portanto, não tenho muitas recordações.

Quando vim trabalhar comecei a ter mais interesse na cidade porque vinha aqui todos os dias. Tinha muito movimento e foi praticamente a partir dessa altura que eu comecei a aperceber-me do comércio, que eu até aí não tinha noção nenhuma. Uma criança com 10 anos que noção tem do comércio? Nada. Foi aí que comecei realmente a ver como é que isto funcionava. Gostava de trabalhar aqui, como gosto.

Nessa altura, havia mais habitação, havia mais pessoas a viver aqui. Aqui não havia uma casa que não estivesse ocupada com comércio. Hoje temos aí dezenas de casas vazias. Naquela altura, tudo trabalhava, tudo vivia e tudo vendia. Aqui havia casas de todo o género. Mas o mais forte era realmente o comércio de confecções e têxtil. Também havia aqui umas que vendiam sapatos, vendiam bicicletas, ainda me lembro muito bem que havia aqui o Faria que era de bicicletas. Havia uns tendeiros do nosso ramo mas tinham calçado pendurado nas portas, aquilo era uma coisa engraçada. Havia de tudo. Depois foi-se apagando, há uns dez anos mais ou menos é que começou realmente a perder comércio, começaram a fechar algumas casas e poucos estão aqui agora.

Actualmente, o comércio tem poucas casas. Os habitantes também começaram a sair daqui, as casas também são muito velhas e ninguém quer viver em habitações sem condições. É o problema principal aqui da cidade. Demoraram muitos anos a reconstruir a habitação e isto está muito degradado.

Uma das coisas que levou ao afastamento das pessoas de vir à cidade é o trânsito. Durante muitos anos entrar na cidade era uma confusão. Hoje é muito mais simples. Hoje temos outro problema, o estacionamento. As ruas estão cheias de carros e não há lugares para quem vem à cidade. Para se conseguir um lugar, ou se vai para os parques de estacionamento, que são caríssimos ou então anda às voltinhas até arranjar um lugar para se poder estacionar.

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