Antigamente, os clientes eram mais de fora. Também tínhamos clientes da cidade, mas vinham de todas as zonas à volta da cidade e da província também.
Vinham muitas pessoas ao Porto, aos hospitais e procuravam o comércio. Eu acho que hoje deixam de vir porque têm à porta de casa aquilo que antigamente não tinham, só tinham na cidade. Hoje já qualquer pessoa, em qualquer localidade tem uma casa do género, às vezes, ainda melhor até.
No nosso ramo, como somos grossistas, era mais o homem que tinha o seu estabelecimento que vinha fazer compras e era a base principal e as senhoras vinham para aqueles artigos mais do lado das senhoras.
Nos últimos anos tenho visto mais turistas no Porto, é verdade. Antigamente havia turismo mas não tem nada a ver com o turismo de hoje. O turista hoje vem em quantidade. Compram, não compram muito mas vão comprando. O euro trouxe facilidades de se comprar também. Antigamente com o câmbio havia sempre um bocado de dificuldades, muitos enganos, muitas vigarices. Hoje não, hoje já é mais fácil. A pessoa já sabe o preço, sabe quanto lhe dói e paga, mas procura e compra. Não compra aquilo que nós queremos mas compra alguma coisa. Quem nos dera a nós que comprassem mais.
Eles muitas vezes chegam cá e perguntam se é nosso, se é fabricado em Portugal, porque sabem que compram artigo bom. Não querem artigo chinês ou de outros países que são artigos fracos. Não têm qualidade nem de confecção, nem a própria qualidade de tecido de outros artigos quaisquer. O artigo confeccionado em Portugal é do melhor que há. Eu vejo que eles vêm cá e procuram o artigo português.
Hoje em dia posso dizer que o nosso tipo de cliente é o mesmo cliente de antigamente. Só que são menos e compram em menor quantidade. Mas os clientes são praticamente os mesmos. São daqui das zonas junto ao Porto e temos os da província que continuam na mesma mas são cada vez menos. Vão fechando. As pessoas são de idade, vão acabando os estabelecimentos, isso é normal. Os filhos já não querem esse tipo de negócios, de maneira que o tipo de clientela é o mesmo. Nós temos clientes que, por exemplo, nós como revendíamos, a maior parte eram pessoas que trabalhavam na indústria e há sempre uma pessoa ou outra que dentro das próprias fábricas compravam artigos e vendiam aos colegas. Vinham aqui ao estabelecimento, abasteciam-se com artigos, levavam e à saída ou dentro da própria fábrica vendiam os artigos às colegas, uma camisola ou sei lá, uma série de artigos e nós éramos beneficiados com isso. Eles vinham cá compravam e vendiam. Hoje as indústrias estão na situação que estão e as pessoas não vendem, também não há indústria.
Temos também muitos clientes com longos anos aqui. Aliás, ultimamente lá vem alguns clientes novos mas quase todos já são clientes com muitos anos de casa. São fiéis, os que vão acabando, vão acabando, alguns novos vão entrando mas os que ficam, a maior parte são os antigos, bastante antigos. Temos uma relação de confiança com eles que é de tal ordem que as pessoas sentem-se completamente á vontade.