A minha loja foi conhecida por vários nomes, Depósito de Lãs foi o nome principal porque era um depósito de lãs. Tínhamos imensa lã. Depois como tínhamos uma tabuleta com um avião, era A Casa do Avião. Era daquelas tabuletas em vidro antigas que a Câmara nos obrigou a tirar e agora já querem que se ponha. Isto a vida é assim. Umas vezes quer-se de uma maneira e outras vezes quer-se de outra.

Entretanto tomámos conta desta firma para onde eu vim aos 15 anos, era Casa Mizita e deixámos ficar na mesma o nome. Rua da Flores, 140 a 148. Eu já trabalho aqui há 54 anos. Por isso se quiser saber a minha idade, 54 mais 15 dá 69. Depois tomámos conta de outra em frente que era Casa Arco-íris. São três casas que temos.

A loja é bonita. A parte de cima pelo menos tem luz. A parte de baixo é mais bonita, mas fomos nós que fizemos tudo. Houve uma proposta da PROCOM em que nós concorremos e tivemos 66,7% de ajudas de custo porque felizmente tínhamos tudo em dia. Só gastámos em baixo porque a casa não é nossa.

Não exportamos, mas vendemos para o país. Somos uma casa grossista e retalhista. Vendemos para os retalhistas e para os consumidores finais.

Retalhistas são casas mais pequeninas que vendem ao consumidor final. Desde a nossa existência nunca deixámos uma coisa nem outra porque não sabíamos o dia de amanhã.

Isto é tipo armazém. Temos o sítio de cobertores. Em baixo tínhamos um sortido de tudo. Temos o segundo andar onde temos as camisolas interiores, pijamas e malhas. Portanto, temos diversas coisas mas tudo organizado por nós. Não somos como estas casa que há agora que não têm tanto sortido.

Já ando nas fábricas há 54 anos. Em tempos íamos com uma lista de 15 em 15 dias às fábricas, a Guimarães, a Famalicão, a Barcelos, até íamos à Serra da Estrela comprar os fios. Levava uma lista por exemplo de 14 fábricas, então saía eu e um ex-funcionário daqui e íamos numa carrinha. Hoje não. Hoje vai-se às fábricas, poucas há. Conta-se pelos dedos, infelizmente. Até se dizia por brincadeira e era assim: Braga reza, Coimbra estuda, o Porto trabalha, e Lisboa passeia. Hoje há menos fábricas e infelizmente vão haver cada vez menos.

Os nossos funcionários já estão cá há muitos anos e são pessoas que profissionalmente sabem das coisas. Como eu andei nas fábricas, a gente via a tecelagem, a fiação, a tinturaria, porque há muitas coisas que as pessoas até desconhecem. Por que é que às vezes um produto é mais caro do que o outro?

O algodão é um produto natural. Nasce o algodão e depois vai para fiar, para bobines. Um jogo de cama em que leve por exemplo duas cores, leve o vermelho, leve o preto vamos supor, se for fio tinto o fio que está em cones que é em cru tem que ir à tinturaria, tem que ser tingido em vermelho e depois o outro tem que ser tingido em preto. Portanto, fio tinto é mais caro que a estampagem porque tem muito mais manutenção. E há coisas que o próprio cliente desconhece.

Os funcionários têm que saber isso. Se for um jogo que leve por baixo aquele elasticozinho tipo capa, leva menos um metro do que um jogo normal. Os espanhóis é que gostam muito dos jogos com a espécie de capa, mas isso leva menos um metro.