Sou uma pessoa educada e gosto de brincar, mas este episódio posso contar. Era um indivíduo que queria umas cuecas, mas as que ele queria já não se usavam. Eram umas cuecas de sarja. Começaram a vir os slips e os boxers.
Digo eu assim:
- Sabe como é cuecas de sarja já não temos. Agora já há outras coisas mais evoluídas.
Diz ele:
- “Ah, mas o que é?”
- Olhe tem estes slips.
- “E tem abertura?”
- Tem. Tem abertura.
- “E a abertura de que lado é? É do lado direito ou do lado esquerdo?”.
- A abertura é do lado direito.
- “Ah, mas é que eu pesco-a pela esquerda.”
Eu digo assim:
- Olhe, não tem mal. Amarre-lhe uma guita e puxe-a pela guita.
Outro uma vez também chegou aqui e disse assim:
- “Olhe tem esta camisola com gola? Tem? Olhe o senhor tem mas eu não compro.”
E ia-se embora. Isto ainda são coisas do tempo em que se iam buscar os clientes à rua. Saiam ali na Estação de São Bento até subiam os Clérigos.
E tinham funcionários próprios para puxar o cliente lá para dentro para os obrigar a comprar. Era no tempo em que a gente por exemplo vendia um sobretudo para criança.
- “Olhe um sobretudo para o miúdo com 9 anos.”
A gente punha-lhe o sobretudo e ele arrastava os pés. E dizia:
- “Um bocadinho maior que ele está a crescer.”