Nem esta rua nem propriamente a Rua Mouzinho da Silveira foram objecto duma intervenção a sério. A Câmara Municipal, em tempos, teve ideias de reformular uma rua e outra. Eu não me recordo mas, salvo erro em 1990 e tal, houve um PROCOM para esta zona, um PROCOM específico. Um plano de apoio às empresas. A Câmara diz que se candidatou para a parte urbana. Passou e não fez nada. Depois houve a Porto 2001 e havia o Eixo Mouzinho/Flores para a intervenção. O Porto 2001 passou e a Casa da Música absorveu tanto dinheiro que não fizeram nada. Depois houve o Programa Polis para o Eixo Mouzinho, Flores e Ribeira. Esse projecto ficou só confinado à parte da Ribeira. Quer-se dizer, ou se tem medo de mexer nisto ou não se sabe o que é que se há-de fazer. Chegou-se a falar em fechar a rua para rua pedonal. Trazer o eléctrico para aqui. Depois era para Mouzinho. Depois já nem para Mouzinho, não há um consenso.
A única coisa que vejo ainda de positivo neste últimos dois anos é a Porto Vivo e disse isso mesmo à arquitecta que me meio fazer algumas perguntas:
- Olhe, você não perca muito tempo que isto não vai nada para a frente.
Mas pelos vistos eles pegaram nas coisas com outras ideias e também com outra abertura. Porquê? Porque, durante muitos e muitos anos, a Câmara, as leis e tudo não deixavam fazer nada. Um projecto que se metesse à Câmara, as cláusulas eram tantas que a gente desistia logo. Mais vale deixar estar e realmente a cidade estagnou.
Actualmente, a Porto Vivo nasce com umas ideias e tem poderes de resolução muito mais rápidos. Está muito mais próximo das pessoas que querem fazer e realmente está-se a ver algumas transformações, nomeadamente aqui no início de Mouzinho. Cinco ou seis prédios seguidos para habitação. Aqui o Palácio das Cardosas, este quarteirão todo vai ficar praticamente reformulado com muito mais habitação. Mas é preciso é que os prédios sejam arranjados. Fala-se aqui à frente num hotel. Qualquer coisa que venha é sempre bem-vinda para a rua, para haver outro tipo de negócio. Não interessa o que seja e que seja igual ao meu. Quantos mais melhor! Porque se estiverem todos os estabelecimentos abertos, as pessoas hoje vão a um, amanhã vão a outro, depois vão a outro e vêm comprar ouro, no outro vão comprar as balanças àquele senhor, depois vêm comprar plantas e depois vêm comprar malhas ou vêm comprar rendinhas, mas vêm. O problema é quando começa a ficar cada vez menos estabelecimentos:
- “Ai, eu não vou lá. Oh, por causa dele, não vale a pena.”
O estacionamento é um dos problemas. É as mentalidades das pessoas que continuam a querer forçosamente andar de carro. As pessoas hoje estão muito comodistas. De preferência o carro havia de entrar dentro do estabelecimento, que é para ela só sair e dizer:
- “Olhe, é aquilo que eu quero.”
Daí os centros comerciais marcarem pontos, porque têm áreas grandes e têm estacionamento. Mas nós cá, no Porto, é impossível. Temos que lidar com aquilo que temos.
A ideia que se teme é que de futuro estes prédios passem a ter habitação a nível de primeiro, segundo e terceiro e o rés-do-chão e as caves estabelecimentos.
O Porto, como perdeu muitos habitantes, também os quer cativar. Agora aquilo que é preciso realmente fazer é que as coisas andem muito mais rápido em termos de projectos, em termos de reformulação de edifícios e tudo. Certo é que as habitações que irão surgir não vão ser habitações baratas. O que vai acontecer é que quem as vai comprar já são pessoas com determinado nível. Essas pessoas, se vierem viver realmente para a cidade, para o centro da cidade, vão ter outro tipo de carências: um bom café, uma boa loja.
O metro veio ajudar muito em termos de fluxo de tráfego. As pessoas já não andam tanto de carro. Mas a questão futura do metro é assim: quando se fala do posicionamento dum terminal rodoviário em Gaia, se isso for mesmo avante, muita gente que vem da parte sul vai ficar travada ali em Gaia. Ali pára.
Aliás, Santa Catarina tem o movimento que tem não é à toa. Muito do movimento é porque as pessoas são obrigadas a passar lá. Porque saem de manhã dos autocarros e vão por ali fora para os seus empregos, umas para cima, outras para baixo, outras mais para o lado, mas passam lá. Ao fim da tarde, fazem o mesmo trajecto. Hoje passa, amanhã passa, de manhã e de tarde, acabam por comprar. Depois é uma rua fechada ao trânsito, que cativa também.