Quase todos os fins-de-semana eu passava aqui na Rua das Flores, vínhamos com a minha mãe às compras. Por acaso, não gostava muito. Eu passava ao sábado, estava sempre tudo fechado e eu dizia:
- Não gosto desta rua, está sempre tudo fechado.
Já comentei até que o facto de eu não gostar fez-me vir aqui parar.
Quando vim para cá trabalhar, tinha muitos mais armazéns abertos. A confusão era muita de pessoas e de carros. Era muito mais movimentada do que agora. À semana, porque ao fim-de-semana, quando eu passava, estava sempre tudo muito calmo. Ainda agora esta rua, depois das 19 horas, fica muito calma.
Nessa altura, notava-se bastante o movimento. Mesmo na altura do Natal, sentia-se as coisas de maneira diferente. Não tem nada a ver com o que é agora, até porque não tem tantos armazéns como tinha. Alguns fecharam e nota-se muito a diferença. Agora, é um pouco mais parado, mais triste.
Agora, gosto muito da rua e de estar aqui, dá-me muito jeito, porque tenho o meu filho muito perto daqui da escola, tenho a minha mãe perto de mim.
Só gostava que ela estivesse diferente, que não tivesse tanta loja fechada. As coisas também se estão a degradar bastante e isso torna tudo mais deserto. Basta começarem lojas a fechar e ficarem muitos anos fechadas para começar a ficar tudo degradado. Assim, a rua é feia.
Fechar a rua ia ajudar muito, porque esta rua é muito confusa e depois com os carros a descarregar ou carregar, torna-se ainda mais confusa. Se não tivesse carros era bem melhor.
Quanto a mim, era uma das coisas que devia ser feita. Depois, precisava de mais lojas abertas, lojas até de coisas que aqui já não existem, porque depois umas coisas chamam as outras. Uma pessoa passa para o armazém, vê a perfumaria, é muito chamativo. Quando tínhamos esta loja em frente com aquelas bugigangas, pedras para fazer colares, pulseiras, tínhamos muitos clientes. Iam buscar os colarzinhos, as pulseiras, porque eles tinham sempre coisas muito engraçadas.
Nós apercebíamo-nos que as pessoas iam ali, atravessavam, porque viam que era uma perfumaria, entravam e por vezes compravam. Quando aquilo fechou, o senhor ainda pôs lá a montra com uns vinhos, mas a princípio era uma tristeza. Nós olhávamos em frente e estava aquilo tudo vazio e isso tirou um bocado de movimento, porque aquilo todos os dias tinha muitos clientes. Depois, ficou assim muito triste, até porque não tinha luz, não tinha nada na loja.
O que a rua tem de pior é mesmo as casas estarem fechadas. Torna-se frustrante uma pessoa olhar, ver as casas que existiam e agora tudo fechado… Não se sente aquele movimento, aquela alegria, porque havia empregados que nós reconhecíamos de todos os dias.